terça-feira, 26 de julho de 2016

Janelas

Em ordem cronológica:

Ao redor de 1988, li “O Jogo da Amarelinha”, do Cortázar. Caiu-me o queixo: dá pra fazer isso com a estrutura narrativa de um livro? Quando comprei o mesmo livro no original, “Rayuela” virou meu livro de cabeceira por muito tempo. Anos depois, li “Avalovara”, do Osman Lins, que mostrou uma estrutura narrativa ainda mais interessante, mas foi o livro do Cortázar que abriu a janela.

Por volta de 1992, finalmente enfrentei “Grande Sertão: Veredas”. Caiu-me o queixo: dá pra fazer isso com a língua?

Deve ter sido em abril ou maio de 1998, lembro tão perfeitamente do momento: eu ainda não tinha me convertido ao Diskman, andava com um Walkman que também tinha rádio, estava sintonizado numa estação que só tocava jazz, fazia um dia lindo, comprei na cafeteria da universidade um pote de sorvete, desses médios, para comê-lo todo antes de nadar, e saí caminhando em direção à piscina; justo quando saí de um longo corredor para um terraço, quando entrei no sol, começou a tocar “Nutty”, do Thelonius Monk, com ele ao piano e o Coltrane no sax tenor, e aí abriu-se a janela da música: o que é isso? Que diálogo lindo é esse? Dá pra fazer isso com um piano, que às vezes parece que gagueja, às vezes é dissonante?

Essas janelas, mais do que me mostrarem uma coisa linda, mostraram-me que do outro lado delas, na rua, no sol, as formas são livres.

Não tive uma sensação comparável em outras artes. O mais parecido foi com  “O Arqueiro”, do Kandinski, que está no MoMA.

Só pra não dizer que não falei disso: essas janelas também se abrem no tatame, mas não tô aqui pra falar de intimidades...

Nenhum comentário:

Postar um comentário