sábado, 16 de julho de 2016

A Espada Flamígera

Antes de mais nada: salvo engano, esse texto foi escrito circa 2003 para o falecido blog Ménage.

A Espada Flamígera é um símbolo simples da expulsão do Paraíso.

Na minha experiência, as meninas não entendem que uma relação à qual se apegaram acabou enquanto não se lhes indicar a porta, segurando na outra mão a espada em chamas, qual Arcanjo Miguel. Em outras palavras: um mínimo de rispidez faz-se necessário.

Há um ponto em que a Espada Flamígera e o Caminho do Zen-budismo se cruzam. A última coisa que deseja um peregrino do Caminho é perder a serenidade e desembainhar a Espada. Não se trata propriamente de respeito à pessoa com quem se estabeleceu a relação que ora urge terminar, trata-se de preservar aquela ordem interior que custa tanto construir. Frente à falta de um mínimo de percepção ou sabedoria da outra parte, porém, andar para trás no Caminho e por um momento perder as estribeiras é uma alternativa preferível a cometer a violência contra si mesmo de continuar convivendo com alguém que, por ação ou omissão, amiúde quebra-lhe a paz interior. É melhor perder a cabeça e incendiar-se como um fósforo do que desandar o Caminho dia a dia numa relação frustrante.

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