quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Divagações II

O Escriba como Máquina
Pergunta pertinente: pode se chamar de máquina aquilo que se autoprograma?

Tese: mesmo quando escreve sobre sentimentos, o escriba segue padrões cujo mix formulou, mas a influência de suas leituras é inescapável e, às vezes, torna-se evidente. Aquele que registra o faz seguindo padrões pretéritos e expectativas atuais: "Guernica" como consequência do "Triunfo da Morte", de Bruegel, o Velho!

Antítese: Como é difícil! O autor como autor! O autor gritando "Foda-se!" para seus leitores e enveredando por caminhos que eles nunca pensaram percorrer.

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O fantástico numa narrativa não é, não pode ser, o elemento central. Só o humano realmente interessa aos homens. George Orwell pode escrever "The Animal Farm" e contar a história de sua revolução: ainda identificamos os motivos e as emoções humanas sob o couro dos bichos. O fantástico é acessório, é um tempero, é um requinte formal.

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O argumento é circular, um falso silogismo: um homem é todos os homens. Ora, se é assim, todos os homens, e não apenas Borges, sabem disso. Borges, por sua vez, por ser um homem, não pode ignorar que um homem é todos os homens. O cachorro caça sua cola, mas prossigamos: acredito que essa verdade está arraigada no homem e que explica por que, desde tempos imemoriais, temos paixão pela narrativa.

Se um homem é todos os homens, instintivamente sabemos que o destino de A bem pode ser, ou vir a ser, nosso próprio destino: não há, portanto, vida humana que não sirva de exemplo para outros homens. As desventuras de Horacio Oliveira não são mais nem menos importantes do que as peripécias de Itto Ogami. O destino, ou a história, do meu próximo me interessa porque pode ser o meu próprio.

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