quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Natação I

Outro dia, a mãe conseguiu me tirar do sério ao insistir que eu não sabia como tinha começado a nadar. A história é mais ou menos assim: aí pelos seis anos, depois de umas quantas crises de asma, resolveram me levar para consultar o falecido Dr. Palombini, que era um baita gente boa, apesar de parecer a criatura do Dr. Frankenstein, e ele me mandou nadar para aumentar a capacidade respiratória e tal. Entrou o verão e um dia no clube começaram a arrebanhar a gurizada pra ver quem já sabia nadar e em que nível, porque ia ter escolinha e um campeonato no final. E então começa aquela história da sorte que eu dei na vida: a iniciativa tinha partido da professora, que era sócia do clube e ninguém menos do que Lisia Barth, campeã sul-americana de natação no nado de costas e que hoje dá nome a um complexo de piscinas do União, onde se criou como nadadora.

Pelo tamanho, a triagem da gurizada da minha idade foi na piscina média, mas logo depois da primeira tentativa ela me tirou da água e me mandou esperar na borda da piscina grande, na qual eu não consegui nadar seu comprimento nem naquela hora nem em outras tentativas mais adiante, mas nadava bem a largura, que era maior do que a piscina média. No tal do campeonato, saí com o ouro. Já é um incentivo...

Estamos falando de 1976. A única piscina aquecida da Terra dos Ventos sem Nome era a de uma clínica de fisioterapia, a Paroto, que tinha incríveis 13m de comprimento, metade de uma piscina semiolímpica! Mas era o que tínhamos, vamos nadar. Até onde eu lembro, a Lisia não foi a primeira professora ali, mas foi mais adiante, quando suas filhas nadaram conosco. Eu não nadava sozinho, tinha colegas da escola comigo, mas acho que ao redor de 1984 só sobrava o Guilherme, e aí apareceu o Geraldo Aranha, estudante de Oceano, que tinha se destacado no brasileiro infantil e juvenil, para nos treinar. O Aranha tornou-se de saída um amigo querido; em 2014, trinta anos depois, no meio de uma viagem de moto, fiz questão de ir visitá-lo no Tamar de Ubatuba, onde é um dos chefes da coisa, e acabei jogando bola com seus filhos na casa deles. Desde que o conheci, ele sempre teve moto e naquele dia tomamos um banho de chuva memorável entre o Tamar e a casa dele. Contudo, não dá pra dizer que foi a amizade com o Aranha que me levou a ter moto desde cedo e a fazer Oceano, a influência foi na piscina mesmo: foi ele quem me disse que meu estilo tinha de ser golfinho, que hoje voltou a se chamar borboleta.

Um dia, o Aranha levou para nos dar uma demonstração seu amigo Ari, que era da Oceano, trabalhava na Caixa e havia sido campeão brasileiro juvenil no nado de peito, o que não é pouca merda... E aí nós vimos como um cara surfa numa piscina, como aproveita cada movimento e tal...

Em 1986, acampado em Quatro Ilhas com Guillermo, subimos para o costão do lado direito, que é o mais agitado, e fiquei olhando o ritmo das ondas, achei que dava pra pular sem perigo e decidi: vou nadar essa porra. Pulei da pedra e fiquei surpreso com o quanto foi fácil atravessar a praia até o costão do camping. Até hoje, acho que a única coisa na vida melhor do que nadar em Quatro Ilhas é sexo. Aliás, só se for do bom, porque tem muito one night stand que não chega nem perto...

Bom, rolou muita água embaixo dessa ponte, sempre lembrando que não dava pra treinar pra competir de verdade numa piscina de 13m. A Lisia era casada com meu xará Lawson, presidente do SC Rio Grande, o Vovô do futebol brasileiro, e não tenho dúvida de que foi a influência dela que levou à piscina semiolímpica aquecida do clube, a primeira da cidade. A essas alturas, eu já tinha 20 anos, a hora de treinar para competir meio que já tinha passado. Ainda assim, só ter a piscina já era um baita estímulo e a Lisia, manobrando com habilidade como sempre, abriu a possibilidade de se nadar como sócio-atleta e foi bater na porta da Oceano, onde ela sabia que tinha muita gente de fora e alguns que tinham nadado a sério antes de irem pro fim do mundo, e formou-se uma equipe. Dessa galera com quem fui nadar, aprendi muito com o Guto, que era da minha turma na Oceano e tinha se destacado no nado de costas, e era um prazer ver o Rodolfo nadar borboleta. Vou arder no fogo do inferno por muitas razões, entre elas por ter esquecido o nome da mineira que mais me ajudou a treinar e era nadadora de peito. Talvez, Mariângela...

Nosso treinador no clube era o Max, baita gente boa que também já nos deixou, fera no basquete, mas não tanto em natação, e um dia ele levou um amigo para nadar, que era ninguém menos do que o Ari, que continuava na Caixa, tinha começado a fumar e criado barriga, mas dentro d’água continuava uma mistura de elegância com eficiência impressionante! As braçadas que deu com a gente acordaram alguma coisa dentro do Ari e ele virou nosso treinador de fato. Mais uma sorte na vida... Aliás, nesse caso, acho que foi uma sorte na vida do Ari também: parou de fumar, voltou a treinar de verdade e ficou em primeiro lugar em várias provas nas olimpíadas internas da Caixa, que parece que são coisa séria.

Nadamos todo o ano de 1990 e em abril de 1991 fomos fazer, no Diamantinos, em Satolep, as seletivas para o campeonato gaúcho, que seria em novembro. Eu peguei índice para duas provas, 100m peito e já não lembro a outra, mas deve ter sido 50m livre ou 50m borboleta. Aliás, o índice no peito só pode ter sido obra do Ari, porque nunca tinha sido minha praia antes. Pior do que isso, só o nado de costas, que o Guto tentou me ensinar e ao fazê-lo me mostrou o quanto ele é difícil se o cara quer treinar para competir. Só que pouco depois, no começo do inverno, a caldeira que aquecia a água quebrou e passamos meses sem nadar. Quando a consertaram, aí por setembro, achamos que era tarde demais e ninguém foi fazer papelão no campeonato gaúcho.

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